terça-feira, 1 de junho de 2010

Mosca de bar

A mosca no bar zoou
Num lampejo sóbrio
Entre a cerveja e o desejo
Perdi meu olhar no fundo do copo
Ingeri às cegas em um só gole
A saudade borbulhante
Do amor ardente...


Apaguei em divagações
Quando a noite se desfazia...

Eis o meu dilema:
Foge de mim a poesia
E me resta o poema

Forma sem essência
Copo vazio
Cabeça sem consciência

Já alto nas veredas do amanhecer
Me esmero no equilíbrio
Visão confusa, óculos caído
Tateio a luz sombria
E no último sorvo da saideira
Engoli a mosca da poesia.

Timidez

Se te falo de amor
Se te declamo um poema
Apenas te olhando distante
É a timidez desconcertante
Que me prende ao silêncio.

Meu coração não te grita
O que meus olhos
Não conseguem esconder
Por que finges não vê?

Descubra em mim o porquê
De tanto te querer...

Sobre o poeta

O que o poeta sente,
Não é sentimento,
É imaginação.

O que o poeta sofre,
Não é sofrimento,
É sugestão.

O que o poeta diz,
Não é o que está escrito,
É o indizível.

O que o poeta deseja,
Não é entender o amor,
É cultuá-lo em suas múltiplas facetas.

Amor cafajeste

De nada adianta...
Quando o sentimento bate á porta
E deseja entrar.

De nada adianta...
Fingir que não se importa
Parece desistir, vai..
Mas volta,
Não aceita derrota.

Se fortalece a cada não,
Então...
Desisto e aceito me abrir,
Se põe a sorrir,
Se aproveita de mim
E me escorrega pela mão.

Fere meu coração...
Dá meia volta
E vai bater em outra porta.

Custo-de-vida

Quanto custa o custo gasto?
Gasto tudo quanto ganho.
Quem ganha com meu gasto?
Como gasta quem não ganha?

Quando o valor da vida é contado por moeda,
Sobe quem pode,
Em baixo fica,
Quem não suporta a queda.
É possível cair quem nunca teve chance de subir?

Se gasta e Se ganha
A vida a todo custo,
Com o suor da lida,
Do custo-de-vida.

...Mas quanto custa a vida?
Moedas, moedas, moedas...
A mais valiosa delas: o amor
A mais singela: o perdão.

O baixo custo de vida, esclareço:
É levar a vida sem preço...

Sobre o amor

Existe amor verdadeiro?
Seria o primeiro?
Ou o derrradeiro?

Amor é fogo.
Amor é água.
Amor é felicidade ou amor é mágoa?

Amor é vida.
Amor é forte.
Amor é uno ou amor é sorte?
Qual o tamanho do amor em relação à vida?
É o universo azul, sereno,
Ou um grão de mostarda,
Fértil e pequeno?
O amor é tudo.
Tudo o quê?
Tudo que às vezes faz sorrir,
Outras vezes faz sofrer.

Sem perdão

Amor essa doce angústia,
Que me envolve em sonhos,
Em desenganos,
Que me faz agir pelo instinto,
Sem temer qualquer perigo,
Que grita dentro de mim,
E me obriga a ficar em silêncio,
Amor divino dentro de um peito humano?
Logo se transforma em tirano.

Essa paixão clama
Me faz sofrer por vaidade
Mesmo tão perto de ti
Provoca infinita saudade.

Por que esse amor,
Diante de tantos corações
Veio se esconder logo aqui
Cá dentro de mim?


...sentimento proibido
Que me deixa tão envolvido, confuso, perdido...

“... fogo que arde sem se ver”
É uma ferida que tanto dói...
Quanto se sente.
É uma arte de viver que não se aprende ou se ensina
... Sem atravessar o sertão de Morte e vida, severina.

Olhos

Teus olhos castanhos-luar
Maré cheia de luz
Sede de amar
Olhar que seduz
Me vejo nele
Entre a espada e a cruz..
...Desejos, olhares, a sós...nus.

Nada natural

Índio vestido
Floresta nua
Rio-seco-sede
Bicho sumido
Manto verde cor de sangue:
De tracajá, de onça pintada,
De cotia, paca, tatu,
Tá tudo mutilado...
Cadê as palmeiras e o sabiá?
A Fênix de lá,
É só cinza cá
Cadê o colorido da arara?
E da bandeira nacional?
E o beija-flor vai deixar de beijar?

Natureza morta,
Ferida exposta
Pela ação humana,
Desmatamento a céu aberto
Como esgoto de periferia...
Santo Deus!
Se existisse aquela terra
Pra ela eu voltaria...

Sedução

Menina, sai das águas do Jari,
Já pensou?
Se o boto bota o olho em ti,
Tu com esse vestido molhado,
No corpo colado,
A sedução em pessoa
Nessa morenice ávida.
Ah! Menina doce e ingênua,
Se apareceres grávida?
O boto sai de cena,
Se atira no rio
E te deixas a ver navio.

Meus 15 anos

Meus 15 anos

Na luz dos 15 anos
No auge dos desenganos
Acertei quando escolhi Deus
Quando acreditei na verdade
Dos conselhos dos meus pais
E nos suspiros dos meus ais

As dúvidas, as lacunas,
O silêncio, flores e plumas
Da vaidade tenra,
Fazem parte do meu momento,
Mas nada que provoque desmoronamento
Do meu querer ser feliz...

Pois a vida é uma atriz,
Bela e talentosa que nos seduz
Com sonhos, fantasias...
Tristezas e alegrias...
Mas não quero ser apenas
Telespectador de emoção alheia,
Quero aproveitar o mar
Contar as estrelas,
Correr na areia,
Alcançar a lua cheia.

Quero da juventude o vigor
De mim, ser meu senhor
Da vida, o papel principal
Me opondo ao mal
Indo muito além
Curtindo coisa boa,
Praticando o bem
Remando minha canoa
Do bem viver,
Do viver bem...

Separação

Quando o querer se esgota
O dizer se desbota
E bota tudo a perder,
Então...
O desespero bate à porta,
Quem se importa?
Se a vida é assim,
Gosta e desgosta.

Solidão

Este vazio me assusta
Me faz pensar que a vida é injusta

A felicidade é assim,
Portas e janelas fechadas para mim...

Senhor, por que me abandonaste,
Se tanto queres a ovelha desgarrada.

Na passarela

Passa o rio
Na beira-rio
Passa o barco saudando com maresia
As inquietantes palafitas,
Na maré baixa arquitetura
De perna de saracura
Passa o boto feiticeiro no cio,
Passa o tempo,
Passa o vento assoviando na janela,
Logo atrás passa ela,
Num meio rebolado,
Insinuante na passarela,
É a vida vivida sob o encanto do rio,
Numa dura realidade feia e bela.

Sonha, Sônia...

Sonha como princesa ou criança,
Numa insustentável leveza,
Olhe em volta e se encante,
Com tamanha beleza...

São quadros expondo lição
Deveres bem resolvidos,
São palavras, carinho, emoção,
Que emanam de braços envolvidos.

São mentes produtivas pensantes,
Projetando um mundo melhor,
São todos amigos amantes,
Da arte maior,
Aquela que é guarida:
A educação para a vida.

Sonha, Sônia...
Cumpra sua meta,
Pois tudo vale a pena,
Se a alma não é pequena,
Já avisava o poeta.

Sonha, Sônia...
Contigo, comigo, conosco,
Juntos faremos um poema
Talvez um belo soneto,
Nas páginas do enredo,
Da Sônia Henriques Barreto

Cachoeira de Santo Antônio

Cachoeira de Santo Antônio

No meio do Jarí
Tem uma cachoeira
Na margem:
Ribeirinho, castanheira,
Floresta de flor nativa,
Beleza singular, primitiva,
Cheiro de liberdade espumante,
Pétalas de flor d’água esvoaçante,
Cortina gigante do espetáculo de Deus.

No meio do Jarí
Tem uma cachoeira
De pedra morena
De fúria serena
Ao raiar da manhã
Tão sedutora e bela
Quanto os seios de cunhã.

Autoapresentação

Autoapresentação

Faço verso com o murmúrio do vento,
Que sopra cá dentro,
Esvoaçando pensamento.

Se o vento sopra e voa,
Logo penso...
Que meu verso é sentimento,
Que contem
Ou descontem,
Contentamento.

Coisa de menino

Quando menino, um dia,
ao colecionar palavras,
teci um verso com duas asas.
O bicho voou por todos os lugares
e veio pousar na minha vida.
A esse bicho dei o nome de poesia.